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Estrangeiro reduz pessimismo com o real

Postado 24/01/2022

Estrategistas, porém, mantêm tom cauteloso com eleições presidenciais à frente e risco fiscal em alta.

O forte ciclo de aperto monetário no Brasil parece, finalmente, ter efeito mais visível sobre o mercado de câmbio doméstico. De olho no alto diferencial de juros do país com o exterior - mesmo ajustado pela volatilidade -, e aproveitando certo apaziguamento dos temores sobre o ritmo de elevação dos juros nos Estados Unidos bem como o noticiário político mais leve, estrangeiros passaram a reduzir as apostas contrárias ao real nas últimas semanas. Para profissionais ouvidos pelo Valor, a trégua, contudo, pode se encerrar com a chegada do período eleitoral.

Dados da B3 até quinta-feira, 20, mostram que a posição comprada (que ganha com a alta) dos estrangeiros em dólar futuro, minicontratos e cupom cambial foi reduzida em US$ 7,6 bilhões em um espaço de duas semanas, para US$ 19,7 bilhões. Esse nível não é alcançado desde 31 de outubro, quando o dólar operava a R$ 5,1697.

Enquanto isso, a posição vendida em dólar (aposta na queda da moeda) dos investidores institucionais locais está estacionada desde o início do ano na casa de US$ 59 bilhões, perto da máxima histórica alcançada em junho, quando o dólar operou abaixo de R$ 5 brevemente. Na sexta-feira, mesmo com a alta da moeda americana, que fechou a sessão em R$ 5,45, o real acumulava valorização de 2,21% no ano.

O cenário atual se assemelha ao vivido no início de 2021, quando a narrativa predominante era de dólar fraco e de recuperação econômica pós-covid, avalia Álvaro Mollica, estrategista de mercados emergentes do Citi em Nova York. “Tem muita gente olhando e tentando ficar otimista tanto em juros quanto com o real. Achamos que, hoje, o global está ditando mais o posicionamento das moedas.”

Mollica nota que, no momento, os mercados tentam entender o rumo dos juros americanos, o que dita a alocação no Brasil até mais do que os fatores locais, já que, recentemente, muitos episódios direcionaram o preço dos ativos. “Com o Congresso em recesso, a volatilidade ligada ao noticiário diminui e o cenário externo acaba tendo efeito maior”, argumenta.

No caso brasileiro, contribui o fato de o real ter voltado a sustentar um diferencial de juros ajustado pela volatilidade atrativo, bem como um Banco Central conservador (ou “hawkish”, no jargão do mercado), que tem convencido ao dizer que entregará a inflação na meta, ao passo que o ruído político diminuiu com o recesso parlamentar.

Mollica pondera que a chegada do ciclo eleitoral pode colocar um fim nessa janela. “Uma regra de bolso para economias emergentes é que os ativos domésticos começam a ter performance pior entre dois e três meses antes da eleição. No Brasil, isso costuma acontecer antes”, nota o estrategista do Citi.

Visão semelhante é defendida pelo economista internacional e estrategista do Wells Fargo, Brendan McKenna. “O real experimentou um rali neste começo de ano, mas acreditamos que o desempenho superior terá vida curta e prevemos uma moeda mais fraca ao longo de 2022 e de 2023. Nossas preocupações estão ligadas à eleição presidencial deste ano e ao potencial de deterioração da dívida e da dinâmica fiscal antes e depois da eleição”, diz.

Além disso, McKenna lembra que a economia brasileira enfrenta forte deterioração de expectativas, o que pode prejudicar o sentimento em relação aos ativos. O economista, inclusive, aponta a possibilidade de o crescimento superar o esperado, mas isso não se refletir no desempenho dos mercados.

“Esperamos que o presidente Jair Bolsonaro tente estímulos fiscais adicionais antes das eleições presidenciais”, diz. McKenna, porém, acredita que, caso o governo busque implementar novos estímulos, “os mercados provavelmente reagiriam desfavoravelmente com a perspectiva de uma política fiscal que seria mais negativa”.

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Fonte: Valor Investe / Globo

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